quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ne tournez pas…



Não vás nem voltes,
Ao intenso glamour do regresso,
É tudo uma ilusão
A vida é dura,

Dura já o é
Para quem nasce, vive  e morre
No local. Fica. Cava a Sepultura e
Pinta a cerca da Aldeia,
Faz o bem ou torna-te Santo,
Ou embrutece-te, banal
No porno do jornal,
Mas fica.

Se gostaste, não voltes.
O que procuras compreender
É como esse país infinito,
As estepes geladas da Mongólia
(todos sabemos que só os mongóis
Sobrevivem à Mongólia),

A vã glória de Napoleão
A loucura de Hitler, as chuvas
Frias do Outono e a lama pegajosa…

Fica. Morre velho, no conforto do lar,
Acumula capital,
Apaga esse fogo insensato,
Esmaga-o, fá-lo desertar,
Sobretudo, não vás nem voltes, fica.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Poema Ante-Póstumo



Porque falavas como já ninguém fala,
A razão para falares sem cessar,
Com calma e clareza, mais fala,
Como se o mundo estivesse a acabar,

A Ti, que respeitas o silêncio
No silêncio quebrado dos murais
Sujam breves e incisivas no silêncio,
Baluartes, espadas e punhais,

Que a tua voz plausível, sage e insigne,
Elevada sobre a sombra da suástica,
Prevaleça como um repto rectilíneo
Sobre a nova assepsia pornográfica.

A cidade, velha astúcia, é hoje morte,
A concórdia, mentira descarada,
Mas de ruinas, a tua voz sairá mais forte
Nessa nova e ansiada madrugada.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Non Plores, Brutus



Brutus, não chores,
Se as Moiras te mostrarem
Um futuro Tenebroso,
Se toda a tua coragem e esforços
Para domar a cobardia
Saírem gorados.

O Povo gosta de tiranos,
Já o devias saber.

Tão pouco lamentes
O dia em que imperadores
Efeminados conspurquem o nome
De Roma ou então, horror dos horrores,
Se intitulem de Rex.

Já está tudo escrito e tudo pensado
E das falas ordinárias dos bairros de má-fama
Sairão ainda obras belas como as que
Aprendeste dos teus perceptores.

Do mais duro dos corações
Podem ainda sair Eneidas em gestos,
Nada acabará, Brutus, apenas aparente
Na mudança se desenha o apocalipse.
Não te fies.

Ainda antes, acaso não te tivesse tomado
A ansiedade, que te volvesses num poço de necessidades,
Haveriam de te lembrar e engrandecer.

Não te fies Brutus, não te fies….