segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Partem comboios

Partem comboios ao amanhecer,
Partem vazios de esperança,
Saem pela cidade no silêncio
Abrupto da ignorância,

Vão, vão e em vão, comboios apinhados,
Repletos de gente muda e amedrontada,
Esmagam nos seus trilhos os inaptos
Torturados no instinto da manada,

Partem, desde quando, até quando?
Quem os ordena? Com que valor?
Quem nos vale no deserto povoado?
Talvez, a sorte, talvez o amor?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

De dentes de fora

A Gaiola Dourada

No dia em que desapareceu A. Tomic, ninguém estranhou a sua falta no café da esquina, que religiosamente visitava às quinze horas. Apenas o copeiro, o virtuoso Sr.K, alçou a mão para tirar uma imperial no momento exacto em que Tomic a costumava pedir, mas dando falta do freguês logo se entreteve com outras coisas.
Podemos dizer que na pacata cidade de J. a ausência prolongada e, por vezes definitiva, de um dos paisanos, é considerada normal, senão mesmo desejável aos olhos de quem manda lá no sítio. A este propósito, convém acrescentar o vigor e persistência com os líderes apregoam as vantagens do desaparecimento. Mas a verdade é que são raros os testemunhos do além que nos possam afiançar do que quer que seja. Os poucos que regressam limitam-se a pronunciar uma ou outra palavra sem nexo, e são ainda menos os que podem formar uma frase completa como: “ninguém nos vê, ninguém nos conhece”.
Precisamente pelo seu carácter dúbio, estas asserções não nos permitem pôr em causa a versão oficial. Pois se são tantos os que não voltam, é quase seguro que algo de muito especial existe para aquelas bandas.
Há quem prefira ficar, mas sublinhe-se, duas vezes, quem quiser partir é sempre livre de o fazer.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nunca dobres a espinha

Há nojentos gestos actos

Há palavras que eu detesto

Rezar gemer flectir

ou então abrir a boca

(como um tanso, feito merda):

“ora sim, meu senhor”


Ora bolas é que é!

Ora bolas!  Ora chiça!  Ora poça!

Isso tudo mais o punho

bem na cara do safado


Cinco dedos cerradíssimos:

“ora toma, seu sacana”.
 
Arménio Vieira

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Defesa da Pátria

Eram precisamente 18:17 quando se anunciou a derrocada.

O governador foi transmitido pelas rádios e televisões.

Anunciou uma catástrofe e convidou todas as forças vivas a acorrer à pátria.

O povo, efusivo, compreendeu rapidamente a gravidade da situação.

Afadigaram-se os burocratas e homens de negócios,

Apressaram-se os financeiros e especuladores,

Atarefaram-se os melhores alunos e jovens promessas,

Correram os jogadores da bola em dribles e fintas fantásticas,

Marcharam os poetas de pena em riste,

Discutiram os comentadores, inclusive os de prognósticos reservados,

Decidiram os juízes com martelos de partir sapateira,

Caminharam os indesejáveis para a morte… com renovado vigor,

Vestiram-se as crianças da primária de branco, com ar humilde e lavadinho,

Ficaram os presos encarcerados, convencidos da sua culpa,

Torturam-se os inocentes com métodos inovadores, impecavelmente cuidadosos,

Puseram os marechais as suas desavenças de lado, não fosse a sorte traí-los uma e outra vez,

Peregrinaram os peregrinos até Fátima, em busca de curas milagrosas,

Cresceram catedrais de consumo e felicidade,

Os escravos liberam-se finalmente desse odioso nome, não obstante as suas periclitantes carnes,


No entanto, continuamos vivos, tal como os nossos pais.

domingo, 23 de outubro de 2011

Segunda - feira! Show must go on...

"Empty spaces - what are we living for?
Abandoned places
I gues we know the score
On and on, does anibody know what we are looking for...
Another hero, another mindless crime
Behind the curtain, in the pantomine
Hold the line, does anybody want to take it anymore
The show must go on
Inside my heart is breaking
My make up may be flaking
But my smile still stays on (...)"







" (...)I'll top the bill, I'll overkill
I have to find the will to carry on
On with the show
On with the show
The show - the show must go on
Go on, go on, go on, go on
Go on, go on, go on, go on
Go on, go on, go on, go on
Go on, go on, go on, go on
Go on, go on."

Queen - The show must go on.


Uma História Exemplar (ou que alívio é a Poesia do Açoite!)

Mário-Henrique Leiria