segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nunca dobres a espinha

Há nojentos gestos actos

Há palavras que eu detesto

Rezar gemer flectir

ou então abrir a boca

(como um tanso, feito merda):

“ora sim, meu senhor”


Ora bolas é que é!

Ora bolas!  Ora chiça!  Ora poça!

Isso tudo mais o punho

bem na cara do safado


Cinco dedos cerradíssimos:

“ora toma, seu sacana”.
 
Arménio Vieira

1 comentário:

  1. Eugénio de Andrade : Os amantes sem dinheiroem


    Tinham o rosto aberto a quem passava.
    Tinham lendas e mitos
    e frio no coração.
    Tinham jardins onde a lua passeava
    de mãos dadas com a água
    e um anjo de pedra por irmão.

    Tinham como toda a gente
    o milagre de cada dia
    escorrendo pelos telhados;
    e olhos de oiro.
    onde ardiam
    os sonhos mais tresmalhados.

    Tinham fome e sede como os bichos,
    e silêncio
    à roda dos seus passos.
    Mas a cada gesto
    que faziam
    um pássaro nascia dos seus dedos
    e deslumbrado penetrava nos espaços.

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