Há nojentos gestos actos
Há palavras que eu detesto
Rezar gemer flectir
ou então abrir a boca
(como um tanso, feito merda):
“ora sim, meu senhor”
Ora bolas é que é!
Ora bolas! Ora chiça! Ora poça!
Isso tudo mais o punho
bem na cara do safado
Cinco dedos cerradíssimos:
“ora toma, seu sacana”.
Eugénio de Andrade : Os amantes sem dinheiroem
ResponderEliminarTinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro.
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto
que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.